quinta-feira, 14 de maio de 2009

INSPIRAÇÃO GREGORIANA


"Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,

Da vossa alta clemência me despido;

Porque, quanto mais tenho delinquido,

Vos tenho a perdoar mais empenhado."

(Gregório de Mattos, A Jesus Cristo Nosso Senhor)
Errar faz parte da natureza humana e bem sabia disso Gregório de Mattos, o Boca do Inferno. Admiti-los era até possível, mas, submetê-los à remissão de sua culpa frente a Jesus no madeiro, é outra história para o polêmico poeta. Em tom provocativo, Gregório desafia a divindade a perdoá-lo indefinidamente. Só assim, para ele, teria o ônus da prova quanto à misericórida divina. Uma provocação semiótica interessante é constatar o quão internalizado está os ícones que se remetem à divindade e os seus efeitos sobre os praticantes da fé cristã. Convidar religosos a exercitarem o diálogo proposto pelo Boca do Inferno seria uma heresia descabida para os valores previamente eleitos para expressar religiosidade e, sobretudo, para externar a comunhão com Deus. Curioso observar, em tais instantes, a sugestão de pequenez frente ao impacto do crucifixo ou de uma imagem religiosa. Com propriedade, o fotográfo Francisco Mendes captou a sugestão de redenção que o Cristo e o madeiro despertam nas pessoas. Numa interpretação mais surreal, o madeiro evocaria a imagem de uma nave rumo às paragens celestiais, disponíveis apenas aos que já se despiram dos seus pecados - principal exigência para os viajores.

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